CSET 2025 – compilado dos relatórios locais

Está disponível uma compilação dos relatórios dos encontros locais realizados em fevereiro de 2025 sob a égide do CSET 2025, idealizado pelo professor Neil Selwyn. Foram enviados 43 relatórios, todos reproduzidos na íntegra nesse compilado, e, em breve, documentos focalizados em pontos específicos da pauta original serão também disponibilizados.

A edição do Rio de Janeiro foi realizada no Departamento de Educação da PUC-Rio pelo grupo DEdTec, com a presença de 7 grupos de pesquisa locais e, de Goiás, o Kadjót, representado por suas coordenadoras, as professoras Joana Peixoto e Adda Echalar.

Clique aqui para acessar o documento.

Potyrõ: I Encontro Goiano sobre Educação e Tecnologia

Na semana de 26 a 30 de maio, tive uma experiência excelente em um evento em Goiânia: o I Encontro Goiano sobre Educação e Tecnologia, organizado pelo Kadjót, grupo de pesquisas liderado pelas queridas professoras Joana Peixoto e Adda Echalar, que estiveram no Rio para a CSET Week 2025 (veja aqui um resumo do capítulo desse evento no Rio de Janeiro).

A programação completa do evento está aqui – e este link leva à playlist das gravações de todas as mesas realizadas no Teatro do IFG, que tem um campus belo e dinâmico (em alguns momentos, lá estava o pessoal do Departamento de Música a ensaiar e animar o local). Na foto ao lado/acima, organizadores e conferencistas no teatro, no primeiro dia do evento.

Muito me orgulhou o convite para participar de um evento que, de fato, extrapolou sua proposta regional para incluir também parcerias com pesquisadoras outros locais, incluindo as professoras Phoebe V. Moore, da Universidade de Essex, e Aléxia Pádua Franco, da Universidade Federal de Uberlândia. Ambas estiveram juntas na mesa de fechamento (foto ao lado/acima), que teve a professora Natália Carvalhaes do IF Goiano, campus Trindade, como mediadora.

Participei de uma mesa (acesse meus slides aqui) mediada pela professora Adda que contou, também, com a contribuição do professor Caio Sgarbi Antunes. Ganhei uma cópia (autografada!) de seu livro A escola do trabalho: formação humana em Marx, que, em breve, irá “furar a fila” longa de leituras que quero (e preciso!) fazer.

A mesa do dia anterior reunira as professoras Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva (UnB) e Maria Cristina Lima Paniago (UCDB), com mediação do professor Jhonny David Echalar (UFG). Conhecia a ambas por seus trabalhos, apenas de nome, então foi uma enorme prazer conhecê-las pessoalmente – e ao Jhonny, com quem já havia colaborado a distância, em um painel do Endipe 2024, para o qual também contribuíram as professoras Adda e Natalia.

Do DEdTec, esteve lá também a Giselle Lima, mestranda egressa do grupo que iniciou seu doutorado em março deste ano. Giselle apresentou a comunicação “Concepções de educação veiculadas por Edtechs no Brasil” em sessão mediada pela professora Cláudia Helena dos Santos Araújo, também integrante do Kadjót. A apresentação foi um recorte da dissertação de Giselle, que teve achados muito ricos, alguns divulgados aqui e aqui.

Foi um evento oportuno e muito bem organizado, com espaço e tempo para encontros fora das sessões de apresentação de trabalhos e mesas, o que é raro, mas muito bem vindo (e produtivo!). A gentileza de tod@s na organização foi enorme (não faltaram caronas!), refletindo, creio, a delicadeza com a qual Joana, fundadora do Kadjót, lida com assuntos tão complexos e controversos. Como não cansei de dizer, foi uma combinação perfeita de criticidade e afeto: que tenha sido apenas o primeiro de uma série de muitos outros encontros em Goiânia!

CSET2025 no Rio de Janeiro

Em 19-20 de fevereiro, realizou-se, na PUC-Rio, o encontro Seminários Críticos de Educação e Tecnologia, um dentre mais de 50 eventos que aconteceram ao longo dessa semana sob a égide do CSET2025. O CSET2025 foi uma proposta de Neil Selwyn como mais um passo na consolidação da rede internacional de pesquisadores no campo dos Estudos Críticos da Educação e Tecnologia: veja aqui o texto da proposta de Selwyn, também explicada em vídeo aqui.

A mobilização no sentido dessa consolidação já vinha acontecendo há um tempo, mas planos que começaram a se concretizar em 2020, com a publicação do v. 45, n.1 da revista Learning, Media and Technology, ficaram em banho-maria com a chegada da pandemia de covid-19 e, subsequentemente, das incertezas do pós-pandemia imediato. Agora, parece que estamos caminhando novamente!

Na ocasião, eu e o grupo recepcionamos pesquisadores e pesquisadores em formação com interesses, se não compartilhados, ao menos bastante próximos. Foi um encontro híbrido com mais de 70 inscrições (o que muito nos surpreendeu, já que o semestre ainda nem começou, e o calor na cidade tem estado arrasador), felizmente (porque nosso espaço era limitado) bem divididas entre participação presencial e participação on-line via Zoom. Lotamos nosso mini auditório no Espaço Leandro Konder!

No campus, tivemos sete grupos de pesquisa representados por seus coordenadores e orientandos, assim como colegas e alunos de outros departamentos e instituições. Foram particularmente bacanas as participações dos professores Ralph Bannell, agora aposentado da PUC-Rio, mas ainda na ativa, e Pedro Teixeira, coordenador do nosso programa de pós, que abriu o evento.

O primeiro dia foi dedicado a estabelecer um diálogo inicial a partir de apresentações de cada um dos grupos. Clique nos links a seguir para acessar os slides dos grupos: DEdTec, Grupem, LabFOF, Kadjót, Conexões, Educação, Mídias e Cultura Surda.

Da esquerda para a direita: Mirna Fonseca (PUC-Rio), Joana Peixoto (IFG), Alexandre Rosado (INES), Thiago Cabrera (PUC-Rio), Giselle Ferreira (PUC-Rio), Márcio Lemgruber (pesquisador independente), Rosália Duarte (PUC-Rio), Jaciara de Sá Carvalho (UNESA) e Adda Echalar (UFG)

No segundo dia, tivemos uma reunião com os coordenadores dos grupos para pensar sobre a pauta geral que Selwyn propôs originalmente para os encontros (em tradução livre abaixo):

1. Quais são as questões, preocupações, tensões e problemas envolvendo a tecnologia educacional em nossa localidade? Que questões precisam ser postas, e que abordagens ajudarão a pesquisa em torno dessas questões?

2. Que males sociais [estamos] vendo em associação com tecnologias digitais na educação em nossa localidade?

3. Como está configurada a economia política da EdTech em nossa região? Como parecem os mercados locais da EdTech? Como as grandes corporações (Big Techs) se manifestam nos sistemas educacionais locais? Qual a situação das políticas pertinentes, e que autores vem influenciando a formulação de políticas? O que vemos ao “seguir o dinheiro”? 

4. Que bases para esperança existem? Podemos destacar exemplos locais de tecnologia que tenha resultado em ganhos sociais e empoderamento genuínos? Que tipo de reações locais e resistência contra formas ruins de EdTech são evidentes? Que imaginários alternativos circulam sobre a educação e futuros digitais? 

A discussão focalizada nessas questões deixou bem claro que, apesar dos grupos terem abordagens teórico-metodológicas diferentes e, em alguns pontos, conflitantes, o que se reflete também em diferenças terminológicas, conseguimos encontrar muitos pontos em comum em termos de preocupações com o cenário atual da relação educação-tecnologia. Pessoalmente, acho que foi um exercício desafiador mas produtivo no sentido em que conseguimos dialogar para além de nossas respectivas perspectivas preferenciais, e saímos com nossas mentes borbulhando de ideias. De fato, acho que algo importante e interessante aconteceu ali: agora, então, é cuidar dos encaminhamentos e desdobramentos!

Por fim, os importantíssimos agradecimentos!

Deixo meus agradecimentos a todos que participaram, com agradecimentos especiais aos colegas que participaram das discussões – sobretudo os coordenadores dos grupos, Adda Echalar e Joana Peixoto (Kadjót), Alexandre Rosado e Cristiane Taveira (Educação, Mídias e Cultura Surda), Jaciara de Sá Carvalho (Conexões), Raquel Barreto (Educação e Comunicação), Rosália Duarte e Mirna Fonseca (Grupem) e Thiago Cabrera (LabFoF – site em preparação – e DEdTec), assim como Márcio Lemgruber, meu parceiro no DEdTec -, assim como aos orientandos dos diversos grupos – sobretudo Giselle (de Morais), Luciana (Sucupira), Lidiane (Monteiro), Mariana Lins e Ana Beatriz Musulão (estudantes no DEdTec), pela lida com a logística no dia 19.

Contamos, como sempre, com a inestimável ajuda do pessoal da secretaria do Departamento de Educação, em particular, do Geneci (na TI e em parte da logística) e do Dudu (que faz o melhor café do campus!).

Deixo também registrado que o evento recebeu auxílio da Capes por meio do programa Proex do PPGE/PUC-Rio, assim como do Departamento de Educação.

EdTech (já) é crítica?

Minha leitura com o café da manhã de hoje foi o artigo “An education in Educational technology”, de Peter Goodyear, um dos autores que introduziram a ideia de patterns de Christopher Alexander na educação (ideia que percorreu um caminho da Arquitetura para a Computação para a EdTech).

O artigo pode ser baixado aqui (acesso aberto).

O texto é curioso. Trata-se de uma defesa da legitimidade da EdTech como campo acadêmico (lembrando que se trata de uma área reconhecida em países anglófonos), mas parece, em grande parte, uma “crítica à crítica” pontuada de comentários de cunho pessoal e em um tom razoavelmente “inflamatório”, como o autor declara em algum momento. Na primeira parte, o texto se posiciona contra a necessidade de uma “Critical EdTech” (EdTech crítica), e depois segue explicando o que seria essa EdTech que já é “crítica”, falando bastante sobre o quanto ela é importante.

Textos de vários autores dessa área são mobilizados para sustentar a suposta “criticidade” da EdTech conforme o autor a vê, mas me parece que algumas dessas citações são tomadas fora de contexto ou “esgarçadas” em generalizações indevidas. Por exemplo, o autor costura duas citações com a seguinte frase: “The allegation that we cannot think deeply, act virtuously or speak honestly about our work turns up even more forcefully here” – em tradução livre e apressada: “A alegação de que não podemos pensar profundamente, agir virtuosamente ou falar honestamente sobre o nosso trabalho aparece ainda com mais força aqui …”. Um pouco pessoal demais – se fosse um texto em português, arquivaria com a hashtag #prontofalei.

De qualquer forma, acho que vale a leitura, mas talvez valha mais uma reflexão sobre o que seria a famigerada “crítica”.

Em tempo: a revista Sisyphus, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, publicou um dossiê intitulado “Abordagens Críticas em Tecnologia Educativa” – acesse aqui.

Da didacografia de Comênio à IA: artigo publicado (por ora, em inglês)

Acabo de ver que saiu, no Journal of Interactive Media in Education, JIME, meu artigo From Didachography to AI: metaphors teaching is automated by, escrito em discussão com os queridos parceiros Márcio Lemgruber e Thiago Cabrera.

Esse é para comemorar, pois concretiza alguns anos de estudo e discussão com Márcio e, mais recentemente, Thiago.

Em breve, teremos a publicação de uma tradução para o português – o JIME é uma revista internacional produzida por uma editora comercial, mas com uma política de acesso aberto, então é divulgada sob uma licença Creative Commons, ou seja, podemos republicar, traduzir, enfim, divulgar o trabalho sem termos que pagar royalties (por nosso próprio trabalho…).

O artigo trata da enraizamentos históricos de ideias atuais da EdTech – deixo, abaixo, o abstract, e convido os interessados para lerem o trabalho!

Although automation is not a novelty, high hopes are currently pinned on more and more ingenious devices built with Artificial Intelligence (AI). AI has become a key discussion point in the agendas of governments and multinational agencies, with particular interest in educational applications. This article explores parallels between ideas surrounding AI in education and conceptions proposed in the 17th century by Jan Amos Comenius, known as the father of modern education. Drawing upon illustrations from ongoing research that takes metaphor as its core analytical category, the piece assumes that metaphors are not mere stylistic elements, but strategic persuasive devices. Comenius’ didachography, a portmanteau coined in his 1657 Didactica Magna to describe an inclusive educational system, relies heavily on metaphors that suggest remarkable similarities with contemporary EdTech rhetoric, especially on AI-related developments. Whilst exemplifying that ideas and premises entailed in current discourses on EdTech may hark back to centuries-old ideas, the paper argues that, despite taking on varying, contextually situated linguistic expressions, underlying metaphors appear to have endured from Comenius’ time to support the advent of an educational system poised to automate teaching and, thus, dispense with a key part of his scheme: the teacher. In closing, the piece suggests that we may need to acknowledge the contingent nature of teaching and learning, perhaps accepting that key aspects of what makes us human may always resist engineering.

Baixe o artigo em pdf aqui.

EDIT em 14/11/2023: está agora disponível uma tradução do artigo para o português, publicada na revista Educação On-line. Clique aqui para ler.

Falando em história da tecnologia educacional… Comenius!

Lembrando de uma postagem de algumas semanas atrás, sobre a relevância da História nos estudos da Educação e Tecnologia: acaba de sair uma coautoria minha com os queridos Thiago Cabrera e Márcio Lemgruber: “Comenius, tecnologia e educação: uma perspectiva mumfordiana“, na revista Intersaberes, número especial “Educação e filosofia da tecnologia: perspectiva histórica e debates contemporâneos“.

Eis a proposta:

Comenius é apontado, nos livros de História da Educação, como o fundador da pedagogia moderna. Em sua Didactica Magna, publicada em latim em 1657, o autor propôs uma forma de organização detalhada como arcabouço para um sistema educacional inclusivo, um modelo baseado em metáforas e analogias relacionadas à produção manufatureira em expansão em sua época. Este artigo discute a proposta de
Comenius como uma solução técnica para a democratização da educação que se mostra uma importante precursora de formas de pensar a relação entre a educação e a tecnologia na contemporaneidade. O texto examina aspectos da contribuição de Comenius a partir de uma perspectiva inspirada na obra de Lewis Mumford, historiador e filósofo da tecnologia. Em particular, toma o conceito mumfordiano de “megamáquina” para discutir a “didacografia” comeniana, que é apresentada na Didactica em uma analogia detalhada entre a tipografia e a sala de aula. Nessa ótica, o sistema educacional de Comenius seria uma megamáquina composta essencialmente de seres humanos mecanizados, embora não prescinda de artefatos como modelos ou mesmo antecipe a perspectiva de mecanizações mais radicais.

Comenius é um personagem fascinante, um bom “lugar” para começar a desvelar enraizamentos históricos de ideias que sustentam a tecnologia educacional contemporânea, tomando metáforas como eixo teórico fundamental.

Baixe aqui o artigo completo.

Livro *Metaphors of Ed Tech*

Capa do livro

Acaba de sair o novo livro de Martin Weller, Metaphors of Ed Tech, publicado pela Athabasca University Press e disponível para ler on-line aqui e baixar aqui. Vinha aguardando essa publicação desde o anúncio inicial (já não me lembro exatamente quando), pois parecer ser diretamente relevante a estudos que venho conduzindo desde 2017.

Baixei e comecei a ler (levarei um tempo para finalizar, devido a outras demandas, mas ontem consegui dar conta da introdução e da conclusão), e a introdução sugere que Weller seguiu a linha de uma proposta que comentei em uma postagem anterior: o uso criativo e lúdico de metáforas. Ele anuncia o seguinte (p. 12):

This is not primarily a book about metaphors, or metaphorical reasoning, but a book of metaphors.

Tenho alguns “livros de metáforas” (nenhum relativo a tecnologias educacionais) bastante divertidos – a leitura, então, parece promissora.

Dei uma olhada nas referências também, e identifiquei alguns textos que acho fundamentais nos estudos da metáfora na educação – como este (1998). A obra seminal de Lakoff e Johnson também está lá, na fundamentação teórica (em português, a excelente tradução do Mercado das Letras está indisponível aqui, mas encontrei aqui, ainda que a um preço meio assustador – como todos os livros no momento).

O autor parece ter privilegiado uma perspectiva instrumental da metáfora como ferramenta para o uso e implantação de tecnologias na educação. A palavra “ferramenta/s” (tool/s) aparece 71 vezes nas 199 páginas do livro (incluindo nessa contagem o material pré e pós-textual). A ver o que isso me dirá.

Dando uma diagonal rápida, vejo que Weller articula o livro a seu blog (um projeto que ele mantém há muitos anos) e a produções anteriores (em particular, seu livro The Digital Scholar). Também me parece haver um foco na Educação Superior, em particular, a distância (mais uma articulação do autor, aqui, a seu local de atuação), e um capítulo dedicado ao online pivot, que chamei de “virada on-line” no início da pandemia.

Tentarei ler logo (não deverá ser difícil, pois a escrita dele é sempre objetiva e fluente) e resenhar.

Por que trazer a história para a Educação e Tecnologia?

Este é um daqueles posts que ficaram abandonados desde que saí das redes sociais no ano passado, então aqui vai: uma recomendação de um artigo curto de Neil Selwyn em seu blog, intitulado “The ‘wonderful usefulness’ of historical perspectives on EdTech” (A “maravilhosa utilidade” das perspectivas históricas da tecnologia educacional”).

A ideia é bem simples: apesar do otimismo em torno das novidades da indústria da EdTech e suas visões luminosas para o futuro da educação, não podemos deixar de lado o passado, pois ele tem muito a nos ensinar…

Esse tem sido o mote que sustenta o trabalho de Audrey Watters (ou sustentou – recentemente, a escritora abdicou de seu título de Cassandra da EdTech – como sempre, a vida dá jeito de se impor sobre nossos planos, escolhas e desejos… De qualquer jeito, seu excelente blog continua no ar). Como destaca Selwyn, há relativamente pouca pesquisa de cunho histórico na área dos Estudos Críticos da Educação e Tecnologia. No artigo, o autor reúne alguns trabalhos e explora os argumentos de Johannes Westberg em torno da importância da pesquisa histórica na educação. O artigo de Westberg está disponível aqui.

Estou ainda coletando informações sobre pesquisa relevante conduzida no país (há!) – em breve devo ter, com o auxílio de uma orientanda, uma bibliografia para compartilhar aqui.

Mesa: Inteligência Artificial na Educação

Participei ontem de uma mesa coordenada por Murillo Marschner, professor do Dept. de Sociologia da USP, junto com o Luis Junqueira, sócio-fundador da Letrus, plataforma de tecnologia educacional que utiliza Inteligência Artificial (IA) para auxiliar no letramento de estudantes

O evento foi o último de um ciclo de mesas redondas sobre as oportunidades e os desafios que a IA impõe à democracia, que vem acontecendo desde julho de 2021 com o objetivo de introduz alguns dos temas que serão discutidos durante o I Seminário Internacional Inteligência Artificial: Democracia e Impactos Sociais, a ser realizado em 13 e 14 dezembro de 2021 sob a organização do Center for Artificial Intelligence, C4AI, da USP, e do Observatório da Inovação e Competitividade, OIC-IEA-USP)

Assista a conversa no link a seguir.

Terceirizando a aprendizagem?

Fonte: Pexels

Nesta semana que passou, fui apresentada a uma novidade que não é tão nova, afinal: as plataformas de geração de paráfrases. Um detalhe interessante é que foram alunos de graduação que me indicaram dois exemplos – segundo disseram, usam para ajudá-los a reescrever e compreender (talvez essa parte tenha surgido ali, no ato da confissão não solicitada?) trechos que não entendem em textos complicados.

Ainda não sei o que pensar sobre isso, mas curiouser and curiouser, entrei no Google Scholar para ter uma noção dos pontos de discussão no momento, e fiz uma busca por [“paraphrasing tools” AND learning]. Desmarcando a caixa com “include citations”, sobraram 446 resultados. Restringindo o ano de publicação para 2017-2021, sobraram 80 resultados.

Olhando por alto, saltaram-me aos olhos os trabalhos relativos ao “problema” do plágio, alguns focalizados no desenvolvimento de sistemas para apoiar a detecção de plágio a partir da identificação de paráfrases geradas automaticamente, o que me pareceu bem esquisito. Além disso, há também também a questão da venda de serviços especializados de escrita de trabalhos acadêmicos, automatizados ou não. Esta plataforma, por exemplo, promovida pela Google Ads, segue o modelo Freemium – serviço básico gratuito com a monetização de serviços extra (pretensamente, pois necessidades vão sendo criadas ao longo da interação com o artefato, por exemplo, jogos).

Tenho uma forte inclinação a achar que as discussões sobre plágio na educação que partem de perspectivas moralizadoras (“é errado e, assim, repreensível”) ou legalistas (“é ilegal”) afastam-se de aspectos que me parecem fundamentais: questões relativas à forma e ao papel da avaliação, questões relativas ao que se pode esperar de estudantes em diferentes momentos de sua formação, questões sobre o papel da imitação, mesmo, no processo, enfim, questões que têm a ver com aprendizagem – o processo, nossas concepções dele, bem como as dos estudantes, tudo isso concretizado em práticas.

Usei learning na busca porque queria ver se havia discussão em torno de algum desses assuntos. Precisaria fazer outras buscas (como digo aos meus alunos de Metodologia de Pesquisa: “usem bases acadêmicas melhores”…), então, por hora, permanece comigo a ideia de que o uso desses geradores seria mais uma forma de terceirizar (ao menos, aspectos de) esse processo. 

A pensar mais…