CSET 2025 – compilado dos relatórios locais

Está disponível uma compilação dos relatórios dos encontros locais realizados em fevereiro de 2025 sob a égide do CSET 2025, idealizado pelo professor Neil Selwyn. Foram enviados 43 relatórios, todos reproduzidos na íntegra nesse compilado, e, em breve, documentos focalizados em pontos específicos da pauta original serão também disponibilizados.

A edição do Rio de Janeiro foi realizada no Departamento de Educação da PUC-Rio pelo grupo DEdTec, com a presença de 7 grupos de pesquisa locais e, de Goiás, o Kadjót, representado por suas coordenadoras, as professoras Joana Peixoto e Adda Echalar.

Clique aqui para acessar o documento.

Potyrõ: I Encontro Goiano sobre Educação e Tecnologia

Na semana de 26 a 30 de maio, tive uma experiência excelente em um evento em Goiânia: o I Encontro Goiano sobre Educação e Tecnologia, organizado pelo Kadjót, grupo de pesquisas liderado pelas queridas professoras Joana Peixoto e Adda Echalar, que estiveram no Rio para a CSET Week 2025 (veja aqui um resumo do capítulo desse evento no Rio de Janeiro).

A programação completa do evento está aqui – e este link leva à playlist das gravações de todas as mesas realizadas no Teatro do IFG, que tem um campus belo e dinâmico (em alguns momentos, lá estava o pessoal do Departamento de Música a ensaiar e animar o local). Na foto ao lado/acima, organizadores e conferencistas no teatro, no primeiro dia do evento.

Muito me orgulhou o convite para participar de um evento que, de fato, extrapolou sua proposta regional para incluir também parcerias com pesquisadoras outros locais, incluindo as professoras Phoebe V. Moore, da Universidade de Essex, e Aléxia Pádua Franco, da Universidade Federal de Uberlândia. Ambas estiveram juntas na mesa de fechamento (foto ao lado/acima), que teve a professora Natália Carvalhaes do IF Goiano, campus Trindade, como mediadora.

Participei de uma mesa (acesse meus slides aqui) mediada pela professora Adda que contou, também, com a contribuição do professor Caio Sgarbi Antunes. Ganhei uma cópia (autografada!) de seu livro A escola do trabalho: formação humana em Marx, que, em breve, irá “furar a fila” longa de leituras que quero (e preciso!) fazer.

A mesa do dia anterior reunira as professoras Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva (UnB) e Maria Cristina Lima Paniago (UCDB), com mediação do professor Jhonny David Echalar (UFG). Conhecia a ambas por seus trabalhos, apenas de nome, então foi uma enorme prazer conhecê-las pessoalmente – e ao Jhonny, com quem já havia colaborado a distância, em um painel do Endipe 2024, para o qual também contribuíram as professoras Adda e Natalia.

Do DEdTec, esteve lá também a Giselle Lima, mestranda egressa do grupo que iniciou seu doutorado em março deste ano. Giselle apresentou a comunicação “Concepções de educação veiculadas por Edtechs no Brasil” em sessão mediada pela professora Cláudia Helena dos Santos Araújo, também integrante do Kadjót. A apresentação foi um recorte da dissertação de Giselle, que teve achados muito ricos, alguns divulgados aqui e aqui.

Foi um evento oportuno e muito bem organizado, com espaço e tempo para encontros fora das sessões de apresentação de trabalhos e mesas, o que é raro, mas muito bem vindo (e produtivo!). A gentileza de tod@s na organização foi enorme (não faltaram caronas!), refletindo, creio, a delicadeza com a qual Joana, fundadora do Kadjót, lida com assuntos tão complexos e controversos. Como não cansei de dizer, foi uma combinação perfeita de criticidade e afeto: que tenha sido apenas o primeiro de uma série de muitos outros encontros em Goiânia!

CSET2025 no Rio de Janeiro

Em 19-20 de fevereiro, realizou-se, na PUC-Rio, o encontro Seminários Críticos de Educação e Tecnologia, um dentre mais de 50 eventos que aconteceram ao longo dessa semana sob a égide do CSET2025. O CSET2025 foi uma proposta de Neil Selwyn como mais um passo na consolidação da rede internacional de pesquisadores no campo dos Estudos Críticos da Educação e Tecnologia: veja aqui o texto da proposta de Selwyn, também explicada em vídeo aqui.

A mobilização no sentido dessa consolidação já vinha acontecendo há um tempo, mas planos que começaram a se concretizar em 2020, com a publicação do v. 45, n.1 da revista Learning, Media and Technology, ficaram em banho-maria com a chegada da pandemia de covid-19 e, subsequentemente, das incertezas do pós-pandemia imediato. Agora, parece que estamos caminhando novamente!

Na ocasião, eu e o grupo recepcionamos pesquisadores e pesquisadores em formação com interesses, se não compartilhados, ao menos bastante próximos. Foi um encontro híbrido com mais de 70 inscrições (o que muito nos surpreendeu, já que o semestre ainda nem começou, e o calor na cidade tem estado arrasador), felizmente (porque nosso espaço era limitado) bem divididas entre participação presencial e participação on-line via Zoom. Lotamos nosso mini auditório no Espaço Leandro Konder!

No campus, tivemos sete grupos de pesquisa representados por seus coordenadores e orientandos, assim como colegas e alunos de outros departamentos e instituições. Foram particularmente bacanas as participações dos professores Ralph Bannell, agora aposentado da PUC-Rio, mas ainda na ativa, e Pedro Teixeira, coordenador do nosso programa de pós, que abriu o evento.

O primeiro dia foi dedicado a estabelecer um diálogo inicial a partir de apresentações de cada um dos grupos. Clique nos links a seguir para acessar os slides dos grupos: DEdTec, Grupem, LabFOF, Kadjót, Conexões, Educação, Mídias e Cultura Surda.

Da esquerda para a direita: Mirna Fonseca (PUC-Rio), Joana Peixoto (IFG), Alexandre Rosado (INES), Thiago Cabrera (PUC-Rio), Giselle Ferreira (PUC-Rio), Márcio Lemgruber (pesquisador independente), Rosália Duarte (PUC-Rio), Jaciara de Sá Carvalho (UNESA) e Adda Echalar (UFG)

No segundo dia, tivemos uma reunião com os coordenadores dos grupos para pensar sobre a pauta geral que Selwyn propôs originalmente para os encontros (em tradução livre abaixo):

1. Quais são as questões, preocupações, tensões e problemas envolvendo a tecnologia educacional em nossa localidade? Que questões precisam ser postas, e que abordagens ajudarão a pesquisa em torno dessas questões?

2. Que males sociais [estamos] vendo em associação com tecnologias digitais na educação em nossa localidade?

3. Como está configurada a economia política da EdTech em nossa região? Como parecem os mercados locais da EdTech? Como as grandes corporações (Big Techs) se manifestam nos sistemas educacionais locais? Qual a situação das políticas pertinentes, e que autores vem influenciando a formulação de políticas? O que vemos ao “seguir o dinheiro”? 

4. Que bases para esperança existem? Podemos destacar exemplos locais de tecnologia que tenha resultado em ganhos sociais e empoderamento genuínos? Que tipo de reações locais e resistência contra formas ruins de EdTech são evidentes? Que imaginários alternativos circulam sobre a educação e futuros digitais? 

A discussão focalizada nessas questões deixou bem claro que, apesar dos grupos terem abordagens teórico-metodológicas diferentes e, em alguns pontos, conflitantes, o que se reflete também em diferenças terminológicas, conseguimos encontrar muitos pontos em comum em termos de preocupações com o cenário atual da relação educação-tecnologia. Pessoalmente, acho que foi um exercício desafiador mas produtivo no sentido em que conseguimos dialogar para além de nossas respectivas perspectivas preferenciais, e saímos com nossas mentes borbulhando de ideias. De fato, acho que algo importante e interessante aconteceu ali: agora, então, é cuidar dos encaminhamentos e desdobramentos!

Por fim, os importantíssimos agradecimentos!

Deixo meus agradecimentos a todos que participaram, com agradecimentos especiais aos colegas que participaram das discussões – sobretudo os coordenadores dos grupos, Adda Echalar e Joana Peixoto (Kadjót), Alexandre Rosado e Cristiane Taveira (Educação, Mídias e Cultura Surda), Jaciara de Sá Carvalho (Conexões), Raquel Barreto (Educação e Comunicação), Rosália Duarte e Mirna Fonseca (Grupem) e Thiago Cabrera (LabFoF – site em preparação – e DEdTec), assim como Márcio Lemgruber, meu parceiro no DEdTec -, assim como aos orientandos dos diversos grupos – sobretudo Giselle (de Morais), Luciana (Sucupira), Lidiane (Monteiro), Mariana Lins e Ana Beatriz Musulão (estudantes no DEdTec), pela lida com a logística no dia 19.

Contamos, como sempre, com a inestimável ajuda do pessoal da secretaria do Departamento de Educação, em particular, do Geneci (na TI e em parte da logística) e do Dudu (que faz o melhor café do campus!).

Deixo também registrado que o evento recebeu auxílio da Capes por meio do programa Proex do PPGE/PUC-Rio, assim como do Departamento de Educação.

Enraizamentos, fronteiras e memórias

Detalhe do palco do Teatro Amazonas, Manaus (foto da autora)

Duas semanas atrás, estive em Manaus para participar da 41a Reunião Nacional da Anped (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação), que aconteceu no campus da UFAM. Esse evento, bienal, é algo (quase) mandatório para quem faz pesquisa no campo da Educação no país. Na ocasião, coordenei um painel intitulado Educação e Tecnologia: entre a potência e a realidade, que incluiu a apresentação de um trabalho baseado na pesquisa de mestrado de Kadja Vieira, mestre egressa do DEdTec que explorou, durante a pandemia, o avanço das GAFAM na educação básica nacional.

O sentimento que me veio, já quando o avião se preparava para pousar, foi de algo overwhelming – dizer que a vista é “impressionante” seria uma tradução pobre e sem colorido. Minha impressão inicial foi de que a cidade – o concreto – aterrissou provisória e acidentalmente no meio do verde. Isso persistiu ao longo dos dias que lá fiquei, na maior parte do tempo, ocupada com as atividades do congresso e algumas demandas de casa e trabalho que não podia deixar de atender.

Campus da UFAM, exterior do Centro de Convivência (foto da autora)

O campus da UFAM é lindíssimo, pontuado de encontros e fronteiras entre nossa “civilização” (nossa megamáquina mumfordiana) e a floresta. Em alguns lugares, os encontros me soaram como impasses: por um lado, a floresta me parecia estar a postos, aguardando (não muito pacientemente) oportunidades para retomar seus espaços; por outro, vendo os funcionários atarefados a circular para lá e para cá, ficava a imaginar o trabalho que a universidade ter para sustentar suas fronteiras (e manter sua infraestrutura em funcionamento). E, sendo um momento singular de falta de chuvas e queimadas ao redor da cidade, também vi situações que já se pensou serem impossíveis. Tristeza por isso.

Banner na entrada do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, Manaus (foto da autora)

Voltei para casa pensando em como toda a vida e todos os arranjos humanos são frágeis e provisórios – apesar da híbris do ser humano. Lembrei-me do Fausto “desenvolvedor” que Marshall Bermann discute no primeiro ensaio deste livro, e, também, de Fitzcarraldo – aqui, de fato, lembrei mais das histórias em torno da produção do filme, documentada aqui.

[Esse último link leva a uma versão completa do documentário no site do Internet Archive, que deixo como recomendação para quem talvez tenha interesse em pesquisa documental na internet. O site oferece um arquivo de materiais compartilhados na Web, incluindo “instantâneos” completos de sites tirados periodicamente. A imagem aqui mostra o que o arquivo tem deste blog; clicando em alguma data assinalada, você é levado ao “instantâneo” daquela data, que contém tudo. Muito útil.]

(Bi)vô Silvino e Vô Lauro (arquivo da família da autora)

Enfim, essa foi uma viagem um pouco diferente, porque parte da minha família era de Manaus, mas eu nunca havia estado lá. A família do meu avô paterno transferiu-se para o Rio de Janeiro quando ele tinha por volta de 10 anos, segundo as histórias que contava: pai “nativo”, madeireiro, mãe sergipana descendente de holandeses, mais de 10 filhos. Infelizmente, os registros disso tudo são poucos, mas ficaram algumas fotos, como esta ao lado/acima, e, sobretudo, as histórias, algumas envolvendo o Teatro Amazonas. Coincidentemente, visitei o teatro no dia do aniversário de Manaus, e conseguimos voltar no dia seguinte para um evento já tradicional na cidade: um encontro de tenores precisamente no dia internacional da ópera, que ambos amavam.

Não cheguei a conhecer meu bisavô, mas diz minha mãe que ele fazia poemas, que presentava junto com rosas. Meu avô fazia águas de cheiro e me ensinou a curtir banho de chuva. Talvez todos aterrissemos provisória e temporariamente nos lugares onde nos encontramos.

Lançamento de “Educação, tecnologia e ficção: da distopia à esperança”

Da esquerda para a direita, a/os autora/es: Kadja, Carla, Cristal, Camilla, Cíntia, Giselle, Luciana, Márcio e Thiago

Está agora disponível para baixar gratuitamente o eBook Educação, tecnologia e ficção: da distopia à esperança, coletânea de textos produzidos por participantes do Grupo de Pesquisas DEdTec, que coordeno no Departamento de Educação da PUC-Rio.

O livro foi lançado em um evento realizado na segunda-feira que passou, 24/04/2023, no Auditório Anchieta, campus da PUC-Rio. Contamos com uma rápida, mas potente, abertura do Decano do CTCH, o Prof. Júlio Diniz, seguida de uma apresentação da proposta de trabalho que resultou no livro (eu) e do livro em si (meus queridos Márcio Lemgruber e Thiago Cabrera, parceiros na organização da publicação). Estiveram presentes também os Profs. Alexandre Rosado, coordenador do Grupo de Pesquisa Educação, Mídia e Comunidades Surda, do INES/DESU, que escreveu a Apresentação do volume e criou as imagens do livro, e o Prof. Edgar Lyra, Diretor do Dept. de Filosofia da PUC-Rio, que escreveu o Prefácio, além de alunos, ex-alunos e colegas do Dept. de Educação e de outras unidades da PUC-Rio, bem como familiares, amigos e colegas de outras instituições. Minha filha, também presente, contou mais de 70 pessoas em algum momento – quem pôde ficar até o final, compartilhou conosco um café com deliciosos bolos.

Todas as presenças nos deixaram muito felizes, sobretudo as dos “mascotes” do grupo – vários bebês chegaram durante a pandemia, tornando o DEdTec um espaço sempre “pé-no-chão”, mesmo em meio às nossas viagens partindo da ficção científica. Com tudo isso, o evento não foi uma celebração apenas da concretização de um trabalho relativamente longo: marcou, também, a consolidação do DEdTec, que ainda está para completar 5 anos de existência.

Como eu disse no dia, o livro é apenas uma face tangível de um processo conduzido continuamente no grupo e que é, para mim, fundamental: um processo formativo para a criticidade e a autoria, sempre em ambiente acolhedor da diferença e da diversidade. As bases conceituais desse trabalho e o processo que culminou no livro estão apresentadas no primeiro capítulo. Os subsequentes abordam, cada um, uma obra de ficção científica (literatura ou cinema) – aqui está uma descrição sucinta do conjunto.

As orientandas-autoras criaram um vídeo com testemunhos curtos sobre sua participação na experiência, que exibimos após as falas. Ouça a seguir:

Fechamos o evento com uma vídeo-montagem mostrando cenas dos filmes discutidos no volume, especialmente preparada para nós por Luiza Furtado – farei um edit nesta postagem para incluí-lo, quando estiver disponível on-line.

Na sequência, tivemos um encontro do grupo na casa de Cíntia (à direta na foto), mestre egressa do DEdTec que fez uma bela pesquisa sobre podcasts, disponível aqui. Cíntia gentilmente ofereceu sua sala para brindarmos não somente pelo sucesso da proposta, mas, principalmente, pelas relações que temos construído dentro do grupo. Cíntia e Luciana (à esquerda na foto), também membro do grupo, foram os dínamos que tocaram a organização das celebrações, e merecem muitos agradecimentos (junto com o pessoal da secretaria, principalmente Dudu, que preparou o café e ajudou na arrumação inicial do auditório)!

E falando em agradecimentos, preciso mencionar também a Giselle (de Morais, mestranda), que tirou as fotos incluídas na postagem.

Para fechar, convido à leitura quem passar por aqui – o livro foi lançado pela Editora PUC-Rio e pode ser baixado diretamente neste link.

Convite para lançamento de coletânea do Grupo DEdTec

Finalmente está saindo do forno o eBook Educação, Tecnologia e Ficção: da distopia à esperança, publicação da Editora PUC-Rio, fruto de um projeto do Grupo de Pesquisas DEdTec – falarei mais sobre o livro outra hora: no momento, quero deixar aqui o convite para o lançamento, que será na segunda-feira, dia 24 de abril de 2023, às 16h, no Auditório Anchieta da PUC-Rio. Espero encontrar/reencontrar lá colegas e amigos queridos que têm feito parte das trajetórias minha e do meu grupo!

Aproveito para deixar um agradecimento também: os belos materiais de divulgação do evento (e todas as imagens incluídas no volume) foram preparados pelo querido amigo e super colaborador Alexandre Rosado, que trabalha com visualidade com seu grupo de pesquisas Educação, Mídias e Comunicada Surda no INES/DESU.

Ajude-nos com a divulgação clicando nos links a seguir para baixar o cartaz para circulação por email e no Instagram.

O Futuro da Mente: entre a tecnologia e a arte (respiro e digressão)

Participei (como ouvinte) ontem das 1as Jornadas Luso-Brasileiras de Pensamento Contemporâneo, intituladas O Futuro da Mente: entre a tecnologia e a arte, um evento on-line organizado por um grupo de pesquisadores do Brasil e de Portugal, incluindo meu colega de departamento Ralph Bannell.

O programa do evento está disponível aqui, e os resumos das apresentações, aqui. Entre elas, a apresentação de Thiago Cabrera, também meu colega de departamento e membro do DEdTec, apresentou as bases, partindo da Fenomenologia de Husserl, em particular, sobre as quais vem explorando a potência do ficcional audiovisual, um assunto que me interessa.

Em várias das falas, foram mencionados ilustrações e exemplos do domínio do sonoro e/ou musical, e isso sempre me chama a atenção, junto com argumentação que levante objeções à concepção do digital como imaterial. Focalizando na materialidade do digital, um dos palestrantes sugeriu que a tela touch, ao ser tocada, não oferece resistência. Para mim, porém, a inclusão de sons nessa operação modifica a experiência de utilizar esse tipo de tela significativamente (eu sou daquelas pessoas chatas que gostam de experimentar com diferentes efeitos sonoros na digitação). Lembrei que saí do meu doutorado com a ideia de que todos os sentidos estão envolvidos na experiência musical (do sonoro, de forma geral), ou seja, não é apenas a audição – na época, comecei a ler sobre as experiências de músicos surdos e de pessoas com sinestesia, e, muitos anos depois, já em outras trilhas, encontrei David le Breton caminhando nessa direção em seu Antropologia dos sentidos. Fiquei então pensando que talvez toda experiência “estética” seja de todos os sentidos, ou seja, que a nossa divisão entre os sentidos é meio arbitrária, ainda que possa ser necessária – isso apimentaria qualquer discussão sobre a “natureza” do “virtual” e do “ciberespaço” (veja o capítulo 14 aqui para um argumento sustentando que se trata de uma “alucinação consensual acadêmica”), e me parece relevante em tempos de VR e AR.

Achei também interessante ver a velha discussão (para algumas gentes que conheci no passado, incluindo meu orientador de doutorado, an old chestnut – adoro essa expressão) em torno do que seria música (com uma referência a Susanne Langer e seu Philosophy in a New Key, a primeira recomendação de leitura que o orientador me passou) dar sinais de que ainda vai muito bem, obrigada. Acho que é um assunto bem difícil de abordar sem um mínimo de jargão teórico da musicologia – não como tecnicalidade esvaziada, mas por aquilo de conceitual que pode apontar (ocultar?), e que é necessário (creio) para nos levar para além de um “senso comum” quase invariavelmente baseado em preferências pessoais. Mas admito que possa estar sendo excessivamente preciosista.

Enfim, foi um dia excelente de respiro intelectual que me tirou de um cotidiano ultimamente repleto de tarefas administrativas.

Em tempo: acho que vale a pena ficar de olho no blog da Camila Leporace, uma das mediadoras, caso apareça lá uma resenha detalhada das discussões.

Apresentações de membros do DEdTec na 23rd Media Ecology Association Convention

Entre 7 e 11 de julho, ocorreu no campus da PUC-Rio a 23rd Media Ecology Association Convention, organizada localmente por uma comissão liderada pela Profa. Adriana Braga, do Dept. de Comunicação da PUC-Rio, e contando com a colaboração dos Profs. Rosália Duarte, da Educação, e Edgar Lyra, da Filosofia, bem como um grupo (bem animado!) de voluntários estudantes da instituição. Tive uma participação muito limitada nessa organização (pois acabara de assumir a coordenação do PPGE), praticamente reduzida a uma fala inicial de boas-vindas da parte da comissão organizadora local. Fotos do evento estão disponíveis na Página da MEA no Facebook, e o livro de resumos está disponível aqui.

Tivemos duas apresentações (em painel que organizei com a Profa. Mylene Mizrahi) do DEdTec: das queridas Cíntia Barreto (cuja pesquisa de mestrado focaliza os podcasts ditos “educativos” na podosfera nacional) e Camilla Borges (cuja pesquisa de mestrado consiste em um estudo do fenômeno dos professores influencers – uma autoetnografia, já que Camilla faz parte dessa comunidade, sendo conhecida como @profmillaborges e @patroa). As apresentações das duas foram muito bem recebidas: houve uma conversa animada ao final, e ambas receberam elogios de participantes pela consistência, clareza e fluência de suas falas (#orgulhodeorientadora!)

Eis os resumos dos trabalhos apresentados:

Tendências da podosfera “educativa” brasileira (Cíntia)

Com cerca de 34,6 milhões de ouvintes, o Brasil ocupa hoje o segundo lugar no ranking dos países que mais consomem podcasts, atrás apenas dos EUA (ABPod, 2021). Muitos aderiram a esta mídia a partir da pandemia da COVID-19, alegando que o formato intimista contribuía para que se sentissem menos sozinhos em contexto de isolamento social (Globo, 2021). Além de entretenimento e informação, os podcasts têm como um de seus principais objetivos declarados, tanto por produtores, quanto por consumidores, promover a aprendizagem. De fato, a podosfera brasileira é rica em ofertas categorizadas como “educativas”, mas esses podcasts não são, via de regra, produzidos por instituições educacionais. Esta comunicação apresentará reflexões fundamentadas em uma pesquisa de mestrado que objetiva compreender, a partir de um recorte da podosfera, como são constituídos os podcasts categorizados como “educativos”. A produção e o consumo de podcasts figuram de modo promissor na literatura acadêmica relativa a usos em contextos da educação formal, mas, diante da vasta oferta de podcasts caracterizados como “educativos”, a pesquisa aborda questões relativas à sua produção, seus produtores e seus propósitos de produção, bem com o conteúdo desses podcasts. Tomando como empiria os próprios podcasts, bem como material promocional de sites e comentários em fóruns de discussão, serão apresentados achados preliminares de uma análise que focaliza gêneros e temas, com o intuito de identificar tendências e preferências relativas às formas nas quais, no atual contexto de midiatização da educação, concebe-se aquilo que se qualifica como “educativo”.

REFERÊNCIAS
ABPod. PodPesquisa 2020-2021. Disponível em: https://abpod.org/wp-content/uploads/2021/10/Podpesquisa-Produtor-2020-2021_Abpod-Resultado- ATUALIZADO.pdf. Associação Brasileira de Podcasters, 2021. Acesso em: 25 fev. 2022.
GLOBO. Podcasts e a crescente presença entre os brasileiros. Disponível em: https://gente.globo.com/pesquisa-infografico-podcasts-e-a-crescente-presenca-entre-os-brasileiros/. Gente, 2021. Acesso em 25 fev. 2022.

Reflexões sobre usos de storytelling por professores influencers (Camilla)

As mídias vêm ganhando cada vez mais espaço em nossas vidas, contribuindo para profundas transformações em nossas formas de adquirir e produzir conhecimento. Nesse contexto, o ensino e aprendizagem vêm escapando aos confins das salas de aula formais para ocupar outros espaços que vêm sendo utilizados maciçamente para fins educativos: as redes sociais. Esta comunicação consiste em um recorte de uma pesquisa de mestrado cujo objetivo geral é compreender como se constitui um novo tipo de professor surgido no atual contexto de midiatização da educação (Rawolle; Lingard, 2014): o professor influencer. Esses professores atuam em um cenário no qual muitos conseguem atrair números expressivos de alunos/seguidores, alcançando, em alguns casos, o status de celebridade. Professores influencers trabalham em redes sociais produzindo materiais pedagógicos a partir da utilização de técnicas de storytelling. Trata-se, aqui, segundo Couldry (2008), de um conjunto de técnicas que propicia a contação, a troca e o armazenamento de narrativas pessoais na Web. Diante da pluralidade das mídias utilizadas, essas narrativas difundem-se de formas distintas que permitem sua retransmissão e reutilização. A pesquisa baseia-se em uma etnografia virtual conduzida pela primeira autora no contexto do ensino de português e redação nas plataformas Instagram e YouTube. Sendo nativa desse campo, utiliza-se de storytelling como técnica e como vivência, com o intuito de promover conexões intelectuais, afetivas e emocionais com seus alunos/seguidores. Esta comunicação irá apresentar reflexões relativas aos usos feitos de storytelling por professores que, ao protagonizar narrativas articuladas nos conteúdos que exibem nas redes, reconstroem-se como sujeitos. 

REFERÊNCIAS

COULDRY, Nick. Mediatization or mediation? Alternative understandings of the emergent space of digital storytelling. New Media and Society 10: 373–391, 2008.

RAWOLLE, S.; LINGARD, B. Mediatization and education: a sociological account. In: LUNDBY, K. (Org.) Mediatization of Communication. Handbooks of Communication Science v. 21. (p. 595-612). Berlin: De Gruyter Mouton, 2014.

Fique calmo e candidate-se (mas não relaxe na preparação!)

Estão abertas entre hoje (21/06) e 05/08 as inscrições para o Mestrado e o Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio, onde atuo.

Tenho participado de processos seletivos para a pós-graduação há anos, e encontro, com frequência, os mesmos tipos de lacunas e questões na documentação e na apresentação dos candidatos. Então, além de contribuir um pouco com a divulgação, pensei também em deixar aqui algumas dicas genéricas.

A questão fundamental a ser considerada é que processos seletivos são sempre fortemente competitivos (muito mais gente do que vagas), então, para que o candidato tenha as melhores chances, precisa estar bem informado e mostrar isso da melhor forma possível.

Pode parecer óbvio, mas, sinceramente, não é o que se vê sempre. Ocasionalmente, fica bem claro para nós, avaliadores, que a documentação foi feita na última hora, sem muito cuidado – como fica bem óbvio que a preparação para a prova também deixou muito a desejar. No caso de provas escritas (na Educação da PUC-Rio, apenas a seleção de mestrado prevê uma etapa dessa natureza), geralmente há uma bibliografia indicada, que precisa ser estudada. Porém, na hora da correção, sempre vemos exemplos de respostas que sugerem que o candidato nem olhou os textos… É uma pena: um gasto inútil (pois a maioria dos candidatos terá estudado, e provas são sempre eliminatórias) e um desgaste improdutivo (encarar uma prova sem ter estudado em meio a muitos outros que se prepararam adequadamente).

Isso tem sido mais raro, na minha experiência. Contudo, o que não é nada raro – e aí começam os comentários sobre as lacunas – é a falta de atenção a detalhes.

Em geral, um edital é um documento relativamente longo e detalhado, e é preciso estar atento ao que é pedido. Por exemplo, é preciso tomar cuidado com a formatação de documentos (pré-projeto, memorial, etc.), com a própria lista de documentos (é preciso entregar tudo que é pedido, obviamente), com datas, detalhes de contato para esclarecimento de dúvidas, ou seja, é preciso ler e atender às demandas do edital. Sem isso, candidaturas podem ser (e são, infelizmente) recusadas logo de início ou, até mesmo, em alguma etapa já adiantada do processo.

Assim como o estudo cuidadoso de textos indicados para a prova, se houver, e a preparação de documentação dentro das orientações do edital em consideração, é essencial que o candidato se familiarize com o Programa de Pós (PPG) para o qual está se candidatando.

Uma das perguntas mais comuns em entrevistas (em qualquer entrevista, na verdade, uma pergunta para a qual o candidato deve sempre se preparar) é a seguinte: “por que você escolheu este PPG?” Uma resposta bem fundamentada a essa pergunta é sempre esperada, e, para isso, o candidato precisa estar minimamente informado sobre o programa: suas linhas de pesquisa, que definem o escopo das pesquisas conduzidas no programa, os grupos de pesquisa, que delineiam áreas temáticas dentro dessas linhas, e, por fim, o trabalho dos docentes, que coordenam grupos, desenvolvem pesquisas e orientam projetos. As possibilidades de orientação nem sempre são explicitadas em editais (alguns editais definem o número de vagas oferecidas por cada docente do programa, mas não é o caso dos nossos), mas, minimamente, espera-se que qualquer candidato a uma vaga em um PPG tenha alguma noção acerca das pesquisas nele desenvolvidas.

Acho meio constrangedor entrevistar pessoas que não têm a menor ideia sobre o programa no qual pretendem ingressar, principalmente se for um candidato ao doutorado. Não é uma questão de o candidato já escolher o orientador (essa nem sempre é a prática), mas sim de mostrar que compreende, minimamente, que a pesquisa é um processo social, ou seja, não é algo que se faz sozinho, isolado do resto do mundo. Todos os PPG têm sites próprios, com listas de grupos e links para suas páginas ou sites de grupos, links para os respectivos currículos Lattes dos professores, enfim, há informações importantes na Web para o candidato acessar com um mínimo de mineração.

Resumindo as dicas:

1- Leia o edital com muita atenção;

2- Visite o site do programa no qual quer ingressar e se informe sobre as linhas de pesquisa, grupos de pesquisa e docentes, com atenção redobrada a projetos e publicações;

3- Visite o currículo Lattes dos docentes cujas linhas de pesquisa e grupo lhe pareçam interessantes e consistentes com o que você gostaria de estudar; em particular, se o edital ao qual você quer se candidatar explicita vagas por docentes, você precisa caprichar nessa familiarização com o escopo do trabalho e produção dos professores. Se não, identifique a linha e os docentes com os quais sua proposta mais se aproxime, e familiarize-se com as temáticas das pesquisas em curso, inclusive, lendo publicações do(s) grupo(s).

4- Organize sua documentação com antecedência, revise tudo que escrever e confira no edital que ela está completa e dentro do formato exigido.

Não é tão complicado, mas exige tempo e cuidado.

Por fim: para saber mais sobre o processo seletivo de mestrado e doutorado do Dept. de Educação da PUC-Rio, especificamente, clique na imagem abaixo.

Aproveito para explicar que a alocação de orientação em nosso PPGE é feita apenas no final do processo seletivo, pelo Colegiado de Pós, então questionamentos preliminares de possíveis candidatos não influenciam nem o processo, nem a alocação.

Lançamento de *Deseducando a Educação: mentes, materialidades e metáforas*

Uma das mesas a serem realizados durante o I Seminário Internacional Reconceitualizando a Educação, organizado pelo Departamento de Educação da PUC-Rio, marcará a apresentação do livro Deseducando a Educação: mentes, materialidades e metáforas. A mesa será composta pelos Profs. Ralph Bannell, Mylene Mizrahi e Giselle Ferreira (eu!), organizadores do volume, com mediação do Prof. Karl Erik Schollhammer, do Dept. de Letras da PUC-Rio.

A coletânea reúne textos em torno dos três eixos temáticos que estruturam o livro: mentes, materialidades e metáforas. A primeira parte, org. pelo Prof. Ralph, focaliza teorização recente sobre a cognição. A segunda parte, sob a responsabilidade da Profa. Mylene, traz uma gama de contribuições muito interessantes da Antropologia. Por fim, a minha parte congrega textos que exploram metáforas como eixos de discussão de questões da educação. O livro contou com a colaboração de autores nacionais e internacionais bastante respeitados em suas áreas de atuação.

Quer saber mais? Junte-se a nós no dia 15! A conversa será transmitida pelo canal do Departamento de Educação no YouTube, neste link.

O livro será disponibilizado como e-Book de acesso livre – divulgaremos os detalhes de acesso assim que possível.

Ah! Antes de clicar em “publicar”, deixo o convite também para, quem achar interessante e puder, que nos ajude a divulgar – o cartaz pode ser baixado aqui.