Segundo encontro do projeto *Educação, tecnologia e filosofia: diálogos interdisciplinares*

Image result for futuros imaginários barbrook
Image result for superinteligência nick bostrom

Na sexta-feira 04/10, tivemos o segundo encontro dos grupos Filosofia da Tecnologia, coordenado pelo prof. Edgar Lyra, do Dept. de Filosofia da PUC-RioFormação Docente e Tecnologias, ForTec, coordenado pela profa. Magda Pischetola, do Dept. de Educação da PUC-Rio, e o DEdTec. O encontro é uma das atividades pertinentes ao projeto “Educação, Filosofia e Tecnologia: diálogos interdisciplinares”, que é apoiado pelo Instituto de Estudos Avançados em Humanidades, IEAHu, do Centro de Teologia e Ciências Humanas, CTCH da PUC-Rio. Dessa vez, além do prof. Alexandre Rosado do INES, tivemos também a presença (por pouco tempo, infelizmente) do Prof. Ralph Ings Bannell, nosso colega no Dept. de Educação, e, como no primeiro encontro, Magda se juntou a nós por videoconferência.

Deixo aqui apenas algumas notas apressadas: há muito a pensar e explorar, mas acho útil deixar algum registro compartilhado de, pelo menos, algumas partes.

Ainda estamos em fase de tentar estabelecer aquele território compartilhado sobre o qual comentei aqui, e isso ficou bem claro durante a discussão, que, dessa vez, havia sido planejada para explorar a primeira linha temática que identificamos no primeiro encontro: projeções de futuros imaginados (especulação ou futurologia). Assim, propusemos uma pequena seleção de textos sobre AI (Inteligência Artificial) como leituras preparatórias: um trecho do capítulo 6 de Superinteligência, de Nick Bostrom, e os capítulo 4 e 5 de Futuros Imaginários, de Richard Barbrook.

Richard Barbrook é co-autor (com Andy Cameron, in memoriam) do excelente ensaio A Ideologia Californiana (último capítulo publicado neste livro – tradução para o português acompanhada do original em inglês). O autor é um cientista político baseado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade de Westminster, Inglaterra. Pesquisador e ativista de perspectiva marxista, Barbrook atua também junto ao Partido Trabalhista Britânico como militante e consultor. Seu mais recente projeto, Class Wargames (Jogos de Guerra de Classes), apresenta-se como uma “subversão lúdica contra o capitalismo da espetacularização” baseada nas ideias de Guy Debord.

Nick Bostrom é um filósofo baseado na Universidade de Oxford, onde fundou e dirige o Future of Humanity Institute (FHI). Bostrom lista como interesses “ética, filosofia da mente e anthropics” (a descobrir como traduziram isso para o português). Oxford hospeda o renomado Oxford Internet Institute, que, aliás, publicou recentemente um relatório muito interessante sobre processos maciços de desinformação (veja aqui), no qual o Brasil figura como um dos campos de pesquisa examinados. Bem, eu não conhecia nem o FHI, nem o autor proposto pelo Edgar, então fui dar uma olhada no site institucional.

Passando os olhos rapidamente pela página que lista a equipe do instituto, me veio à mente o filme Jogos do Apocalipse (tradução estranha de The Philosophers ou After the Dark nos US of A, que sempre somem com palavras difíceis dos títulos de filmes e livros, por exemplo, o primeiro da série Harry Potter…). No filme, um professor de filosofia propõe a uma turma de formandos do ensino médio uma atividade de role play em cenário apocalíptico, na qual os jovens precisam escolher um número limitado de pessoas que iriam habitar um abrigo e, assim, permitir que a raça humana não desaparecesse. As escolhas são feitas com base em informações sobre profissão/habilidades, sorteadas pelos alunos a partir de papeizinhos contidos em uma caixa preta. A cada rodada os alunos têm que argumentar de forma lógica em sua defesa e negociar sua escolha com o resto do grupo, mas, apesar disso, quase todas as tentativas terminam com o extermínio total do humano.

O que é interessante é ver como os jovens escolhem, defendem e depois interpretam os diferentes papéis: de eletricista a poeta, cantor de ópera, engenheiros de diferentes especialidades, etc. Mais interessante de tudo é como a vida (fictícia) no abrigo difere e, sobretudo, parece melhor quando os escolhidos (se não me engano, na última rodada) são os artistas (ou um grupo majoritariamente de artistas – não lembro de todos os detalhes, quero rever quando tiver tempo), preteridos em encenações anteriores que haviam privilegiado argumentos de base utilitarista (por exemplo, um técnico eletrônico seria mais importante para manter a coisa funcionando do que um cantor de ópera). Por fim, é nesse último cenário que o grupo consegue sobreviver o ano necessário para a mínima descontaminação do mundo exterior.

Pois, o Instituto do Futuro da Humanidade (e que nome…) de Oxford não parece ter nenhum artista, músico, poeta. Apenas formigas sem nenhuma cigarra?

Enfim, como sempre, I digress

Voltando ao assunto: o encontro…

Precisarei ler o livro do Bostrom inteiro para ter uma ideia melhor, pois a parte selecionada focaliza um “cenário de tomada de poder por uma AI” sem discutir porque o objetivo dessa “criatura” seria “tomar o poder”. Acho isso essencial para entender o que o autor pretende, pois a AI poderia ter qualquer outro objetivo, inclusive nada pensado por humanos – com relação a isso, Bostrom faz questão de ressaltar que, sendo “fortemente inteligente” (grifo meu), a AI não iria pensar “nenhum plano tão idiota que mesmo nós, humanos, sejamos capazes de antever como esse plano poderia falhar inevitavelmente”.

É que “tomada de poder” me parece ser algo tão humano… De fato, a ficção tem transferido esse “desejo” para a máquina repetidamente, criando múltiplos cenários de conflito entre criatura e criador, e o cenário de Bostrom me remeteu a várias obras de ficção na literatura e no cinema (do óbvio O Exterminador do Futuro, a A Matrix, os Borg em Jornada nas Estrelas, The Lawnmower Man – no Brasil, recebeu o estranho título O passageiro do futuro -, Transcendence – no Brasil, título Transcendence – a revolução -, Battlestar Galactica e, como sempre, o seminal Frankenstein). Essas obras podem ser vistas como “tendenciosas” no sentido que sempre há pequenas lacunas e espaços para resistência por parte do humano, de diferentes formas (mesmo que seja a hibridização em vez da aniquilação), e o que Bostrom parece (como disse, preciso ler o livro inteiro) querer fazer é pensar a possibilidade de situações criadas por máquinas que, criadas por outras máquinas, teriam escapado das nossas imperfeições. Dá para entender os elogios de Elon Musk a Bostrom: Musk, que enviou para Marte um carro tripulado por um manequim vestido de astronauta (veja aqui uma leitura crítica)…

Há muito a pensar aqui além da necessidade de discutir o porquê da tomada de poder. Será que a ficção, ainda que marcada pelas limitações da imaginação do humano, em seu apelo estético, nos daria bases mais interessantes para discutir questões relativas à AI? Se realmente há medo e preocupação com essa possível “tomada de poder”, até que ponto discussões especulativas e abstratas podem ajudar? Haveria um papel necessário para a mobilização de conhecimentos mais “técnicos” em discussões sobre a viabilidade dessa super AI? Além das hipérboles, há questões mais básicas de significados não compartilhados de termos fundamentais dessas discussões, começando com a própria ideia de “inteligência” (pontuação que o Ralph fez logo no início). É tão fácil ficar perdido em jogos de linguagem nesse cruzamento de discursos tão díspares…

Sugeri que pegássemos o Futuros Imaginários como contraponto ao Bostrom precisamente porque o autor joga um bom “balde de água fria” nas hipérboles associadas à AI, invariavelmente carentes de especificidades contextuais e, sobretudo, históricas. Esses exageros são um problema nas discussões sobre tecnologia na área da Educação, e, para mim é fundamental questioná-los: acho necessário historicizar.

O livro de Barbrook costura uma narrativa pessoal do autor com a história da tecnologia, e seu argumento central fica bem resumido logo no início (versão preprint, p. 6):

As in the mid-1960s, the invention of artificial intelligence and the advent of the information society are still only a couple of decades away. If the prophecy isn’t fulfilled in this generation, then its realisation must take place in the next one. In a continual loop, belief leads to disappointment and failure inspires conviction. The present is continually changing, but the imaginary future is always the same.

Em tradução livre:

Como em meados da década de 1960, a invenção da inteligência artificial e o advento de uma sociedade da informação estão poucas décadas à frente. Se a profecia não se cumpre em uma geração, então o será na próxima. Em um loop contínuo, crença leva à decepção, e fracasso inspira convicção. O presente está sempre mudando, mas o futuro imaginário é sempre o mesmo.

Como qualquer tomada de posição, o argumento de Barbrook não poderia estar inteiramente livre de escolhas (opiniões), mas, minimamente, trata-se de uma argumentação informada por especificidades históricas que permitem contextualizar os discursos sobre a AI – principalmente da indústria que nela aposta. A descrição de um loop é consistente com as evidências que ele traz de suas fontes, além de ser, é claro, consistente com a perspectiva marxista do autor. Daí, talvez, decorra também um aspecto apontado pelo pessoal do Departamento de Filosofia como um problema: há, sim, indicações no texto de uma visão instrumental da tecnologia. Apesar da perspectiva crítica, Barbrook tende a se posicionar como um otimista (veja aqui seu Manifesto Cibercomunista – em inglês).

Em meio à discussão, muitos assuntos foram mencionados, alguns comentados em mais detalhes, outros de passagem. A questão da agência me parece algo fundamental, bem como as concepções de tecnologia mobilizadas (e foram múltiplas), perspectivas sobre a presença de artefatos na educação (que não se restringe a contextos de Educação a Distância – uma visão de senso comum infelizmente também compartilhada na própria área da Educação), enfim, alguns eixos teóricos basais. Talvez precisemos pensá-los: identificá-los, não “defini-los”.

Creio que precisaremos repensar, também, o formato dos encontros, pois o grupo é bem numeroso e inclui estudantes de vários níveis, formações e expectativas. Em particular, temos alunos de graduação, que estão apenas iniciando sua participação em grupos de pesquisa. Os encontros têm um importante aspecto formativo que precisa de atenção.

Apresentam-se desafios maravilhosos. Continuaremos trabalhando neles.

Nem otimista, nem pessimista

Nunca fui diretamente acusada de “tecnofóbica e ludita”, mas já ouvi, repetidamente, que sou “pessimista”. Obviamente não dá para separar ideias de afetos, mas, de fato, são muito fortes os sentimentos associados a visões cor-de-rosa das tecnologias digitais, e não é fácil levantar questionamentos do tipo “e se as coisas não forem exatamente como você diz que elas são?”.

Há anos o escritor Evgeny Morozov vem fazendo perguntas nessa linha, e, a partir delas, oferecendo perspectivas diferentes daquilo que o excesso de otimismo com as tecnologias tem encorajado. Suas críticas são cortantes, e seus posicionamentos, controversos. Neste vídeo, por exemplo, ele questiona a dita “potência” da internet como instrumento de democratização e, a partir disso, discute caminhos alternativos para o ciberativismo (a tradução automática aqui não funciona tão bem, mas dá uma ideia):

Seguindo a mesma linha de seus livros To save everything, click here: the folly of technological solutionism (2013) e The net delusion: the dark side of internet freedom (2012) (não acho que tenham sido traduzidos), Big Tech. A Ascensão dos dados e a morte da política traz uma crítica sempre “direto na jugular”, para usar uma metáfora bem gráfica. A curta seção a seguir ilustra a verve do autor:

Nesse espírito, então, para pensar especificamente sobre a educação – para além de dicotomias bem-mal, bom-mau, otimista-pessimista, dentre tantas -,

(…) é preciso que a escrita, a pesquisa e o debate abordem o uso de tecnologia na educação como problemático. Tal perspectiva não significa assumir que a tecnologia é o problema, mas, sim, reconhecer a necessidade de interrogar seriamente o uso da tecnologia da educação. Isso envolve a produção de análises detalhadas e ricas em contexto, engajamento em avaliação objetiva, e dedicação de tempo para investigar qualquer situação em seus aspectos positivos, negativos e toda e qualquer nuance intermediária. Envolve, também, um posicionamento inerentemente cético, ainda que resistente à tentação de incorrer-se em um cinismo absoluto. Adotando a distinção feita por Michel Foucault, isso envolve ver a aplicação de tecnologia na educação como “perigosa”, em vez de “má”, lembrando que qualquer crítica deve sempre resultar em ação, em lugar de inércia.

(Neil Selwyn, p. 89, capítulo 1 neste livro de 2017 – acesso aberto)

Para completar, aqui está o que Foucault disse:

Meu argumento não é que tudo é mau, mas que tudo é perigoso, que não é exatamente a mesma coisa que mau. Se tudo é perigoso, então sempre temos algo a fazer. Então minha posição leva não à apatia mas a um hiperativismo pessimista.

Foucault em entrevista, em Michel Foucault de Hubert Dreyfus e Paul Rabinow, 1983 (há um pdf aqui – em inglês)

e-prints gratuitas de artigos recém-publicados!

Finalmente consegui acessar minha conta no sistema da Taylor & Francis Online e retirar de lá os links que oferecem e-prints gratuitos dos nossos artigos publicados recentemente na revista Learning, Media and Tecnology.

Então, as primeiras 50 pessoas que clicarem poderão acessar os artigos sem custo!

FERREIRA et al (2019) Metaphors we’re colonised by? The case of data-driven technologies in Brazil – clique aqui

FERREIRA & LEMGRUBER (2019) Great Expectations: a critical perspective on Open Educational Resources in Brazil – clique aqui.

Se você clicar nos links e as e-prints já estiverem esgotadas, poderá acessar as versões pré-publicação em meu perfil na plataforma academia.edu ou aqui (Metaphors) e aqui (Great Expectations). Versões com formatação mais agradável podem ser baixadas do perfil de Alexandre Rosado no academia.edu.

Boas leituras!

Metáforas da Educação e Tecnologia: versões de artigos para baixar livremente

Acabo de subir para o meu perfil da plataforma academia.edu as versões aceitas dos artigos publicados recentemente da revista Learning, Media and Technology. As versões são muito próximas aos textos publicados, que necessitam de acesso via assinatura (o preço de artigos isolados é absurdo para nós, nem comentemos sobre isso…).

Se alguém estiver interessado em ler os trabalhos, mas tiver problemas em acessá-los no academia, o material está aqui também: Great Expectations: a critical perspective on Open Educational Resources in Brazil (parceria com Márcio Lemgruber) e Metaphors we’re colonised by? The case of data-driven educational technologies in Brazil (parceria com Alexandre Rosado, Márcio Lemgruber e Jaciara Carvalho).

Estou aguardando um reset da minha senha no sistema da revista (são tantas as senhas, me escapam da memória frequentemente), pois cada um dos autores recebe 50 e-prints para distribuir, mas preciso acessar o sistema para pegar o link pertinente. Em breve, circularei esse link aqui, e as primeiras 50 pessoas a acessarem poderão baixar o artigo na versão publicada pela revista.

Boas leituras!

Três documentários interessantes

Estou sempre em busca de audiovisuais novos para usar com os meus alunos, e os três documentários que vou listar aqui são bastante interessantes. Os três estão disponíveis no catálogo nacional da Netflix.

A primeira recomendação é a produção mais recente: Privacidade hackeada (do original The Great Hack, 2018). Este documentário reconta o escândalo em torno da empresa Cambridge Analytica a partir de entrevistas com alguns atores centrais envolvidos no caso, que recebeu uma cobertura aprofundada do jornal britânico The Guardian.

Veja, a seguir, o trailer oficial legendado:

As falas da jornalista Carole Cadwalladr merecem destaque. Nesse espírito, vale, também, assistir a sua palestra TED que explora o papel da plataforma de redes sociais Facebook no processo Brexit. Aqui está, com legendas em português:

A segunda recomendação é Eis os delírios do mundo conectado (do original Lo and behold: reveries of the connected world, 2016), do cineasta alemão Werner Herzog. Também a partir de múltiplas entrevistas, Herzog explora o “impacto” da Internet no olhar de engenheiros (alguns dos entrevistados são figuras importantes dos primórdios da criação da rede – por exemplo, Ted Nelson), cientistas de diversas especialidades e pessoas que relatam efeitos (a maioria, terríveis) da Internet em suas vidas.

Por fim, sugiro Está tudo nos números (do original Prediction by the numbers – 2018). O programa explora a noção de se fazer previsões a partir de dados numéricos usando, em particular, modelos probabilísticos e estatísticos. Para quem tem um olhar mais crítico, será preciso dar um razoável desconto pelo “ufanismo matemático” (lá no final, a previsão é que a matemática continuará a mostrar os caminhos para a humanidade…). Falando (exagerando…) sobre desenvolvimentos de ponta – machine learning e deep learning possibilitados pelo processamento de Big Data – o entrevistado é Sebastian Thrun, que também conversa com Herzog em Eis os delírios do mundo conectado.

Maus argumentos

Estava preparando material para aulas, que começam na semana que vem, e, buscando algo interessante para dar o tom no primeiro dia, resgatei este livrinho, que comprei na finada (RIP) livraria Cultura do Centro do Rio.

Para uma disciplina de introdução à pesquisa educacional, escolhi usar o material relativo à falácia da “generalização precipitada”. A explicação remete a Alice no País das Maravilhas:

Alice tinha ido à praia apenas uma vez na vida. E tinha chegado à conclusão de que, em qualquer lugar do litoral inglês, você encontraria cabines de banho, crianças cavando a areia com uma pá, uma fileira de casas de veraneio e, atrás disso tudo, uma estação de trem.

Esta aí uma falácia das mais comuns nos discursos sobre Educação e Tecnologia.

“Personalização é o oposto de privacidade”

É o que diz Shoshana Zuboff na entrevista a seguir, que explora ideias centrais do seu livro The Age of Surveillance Capitalism (Nova Iorque: Public Affairs, 2019) (“A era do capitalismo da vigilância” – ainda sem tradução por aqui):

Outros críticos – como o bielorusso Evgeny Morozov – já vêm dizendo a mesma coisa há tempos, mas (pelo que sei) Zuboff é a primeira autora a nos oferecer uma discussão aprofundada sobre o funcionamento dessa nova forma de capitalismo.

É nesse contexto que a EdTech – com suas plataformas de aprendizagem adaptativa, aprendizagem customizada e aprendizagem personalizada – opera.

Número especial da revista *Learning, Media and Technology*

Acaba de ser lançado o volume 44, número 3, da revista Learning, Media and Technology, LMT, organizado por Michael Gallagher e Jeremy Knox com o título Global Technologies, Local Practices.

O número contém 11 artigos escritos por autores baseados, predominantemente, no “Sul global”, conforme a proposta da chamada original lançada em 2018. Eis o sumário:

1 – Global technologies, local practices – Michael Gallagher & Jeremy Knox

2 – Global-local divides and ontological politics: feminist STS perspectives on mobile learning for community health workers in Kenya – Jade Vu Henry, Martin Oliver & Niall Winters

3 – De-coding or de-colonising the technocratic university? Rural students’ digital transitions to South African higher education – Sue Timmis & Patricia Muhuru.

4 – WhatsApp use among African international distance education (IDE) students: transferring, translating and transforming educational experiences – Clare Madge, Markus Roos Breines, Mwazvita Tapiwa Beatrice Dalu, Ashley Gunter, Jenna Mittelmeier, Paul Prinsloo & Parvati Raghuram

5 – Southern agency and distance education: an ethnography of open online learning in Dilli, Timor-Leste – Monty King, Martin Forsey & Mark Pegrum

6 – Young black women curate visual arts e-portfolios: negotiating digital disciplined identities, infrastructural inequality and public visibility – Travis Noakes

7 – Great Expectations: a critical perspective on Open Educational Resources in Brazil – Giselle Martins dos Santos Ferreira & Márcio Silveira Lemgruber

8 – An exploration of agency in the localisation of open educational resources for teacher development – Freda Wolfenden & Lina Adinolfi

9 – Refugees and online education: students perspectives on need and support in the context of (online) higher education – Belma Halkik & Patricia Arnold

10 – Digital neocolonialism and massive open online courses (MOOCs): colonial pasts and neoliberal futures – Taskeen Adams

11 – The postdigital challenge of redefining academic publishing from the margins – Petar Jandric & Sarah Hayes.

Acabo de baixar os artigos para ler nos próximos dias (infelizmente, a LMT é paga – e muito bem pagam, por sinal) – a revista está catalogada no Portal de Periódicos da CAPES, mas o acesso depende de assinatura. Tentarei postar resumos curtos aqui.

Alguns dos artigos prometem discutir assuntos que têm estado “no radar” do DEdTEc – novas formas de colonialismo no universo da Educação Aberta e, sobretudo, a partir de processos de datificação, e teorização feminista – mas todos, sem exceção, representam visões periféricas da Educação e Tecnologia.

Por fim… sim, o número inclui um artigo meu e do Márcio Lemgruber – mais um produto de um #orgulhodeparceria! Temos alguns e-prints gratuitos para distribuir – entre em contato e lhe enviaremos.

Educação e Tecnologia: utopias, distopias e metáforas

No semestre que vem, darei uma disciplina de mestrado/doutorado intitulada Educação e Tecnologia: utopias, distopias e metáforas. Compartilho, abaixo, a proposta preliminar – estou ainda matutando sobre os detalhes do planejamento aula-a-aula para montar o programa que preciso colocar no sistema da instituição.

As possibilidades são muitas (a ficção científica me acompanha desde a adolescência) – há algum tempo, venho selecionando livros, filmes e séries que leio/assisto e me remetem a questões relevantes à Educação e Tecnologia. Já tive algumas experiências de ensino colaborativo nessa direção – um dos resultados foi um artigo de 2015 – e continuo a usar material dessa natureza com meus alunos, inclusive da graduação. Mais recentemente, reli Os Despossuídos e A mão esquerda da escuridão, ambos da escritora Ursula le Guin e ambos lidos há mais décadas do que quero contar, e comecei a pensar em novas formas de organizar e explorar mais o material, mas isso é uma outra história…

Por hora, fica a proposta.

Educação e Tecnologia: utopias, distopias e metáforas

EMENTA: Leituras críticas da relação entre a educação e a tecnologia a partir de utopias,  distopias e metáforas: Tecnologia educacional e ideologia. Metáforas conceituais em perspectiva crítica. Metáforas conceituais da tecnologia educacional. A ficção científica como metáfora, representação e crítica. Questões atuais relativas às tecnologias digitais e cenários da ficção distópica – concepções de educação; ensino; aprendizagem; sujeitos e objetos da educação; privacidade e vigilância em contextos educacionais.

Bibliografia principal

AQUINO, Júlio G; RIBEIRO, Cintya R. (Org.) A Educação por vir: experiências com o cinema. São Paulo: Cortez, 2011.

FERREIRA, Giselle M. S.; LEMGRUBER, Márcio S. Tecnologias educacionais como ferramentas: considerações críticas sobre uma metáfora fundamental. EPAA, v. 26, n. 112, p.  1-15, 2018. Disponível em: https://epaa.asu.edu/ojs/article/view/3864/2124.

FERREIRA, Giselle M. S.; ROSADO, L. A.; CARVALHO, J. S. (Org.). Educação e Tecnologia: abordagens críticas. Rio de Janeiro: SESES/UNESA, 2017. Disponível em: https://ticpe.files.wordpress.com/2017/04/ebook-ticpe-2017.pdf.

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Trad. Lino Vallandro e Vidal Serrano. 22ª ed. São Paulo: Globo, 2014.

LE GUIN, Ursula. Os despossuídos. Trad. Danilo Lima de Aguiar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.

LEMGRUBER, Márcio S.; FERREIRA, Giselle M. S.Metáforas da Tecnologia Educacional. Educação em Foco (UFJF), v. 23, p. 15-38, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.22195/2447-5246v23n120183351.

LEMGRUBER, Márcio S.; OLIVEIRA, Renato José de. Argumentação e Educação: da ágora às nuvens. In: LEMGRUBER, M. S.; OLIVEIRA, R. J. (Org.) Teoria da Argumentação e Educação (23-55). Juiz de Fora: Editora UFJF, 2011.

LEMOS, Daniel C. de A. (Org.) Distopias e Educação. Entre ficção e ciência. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2016.

LUPTON, Deborah. Digital Sociology. London: Routledge, 2015.

ORWELL, George. 1984. Trad. Alexandre Hubner e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

SELWYN, Neil. Distrusting Educational Technology. Ed. para Kindle. Londres: Routledge, 2014.

Audiovisual

BROOKER, Charlie. Black Mirror. Seriado Netflix, 2015-.

KUBRICK, Stanley, 2001 Uma odisseia no espaço. Metro-Goldwyn Meyer, 1968.  

SCOTT, Ridley. Blade Runner. Warner Bros. Pictures, 1982.

THE WASCHOWSKIS. A Matrix. Warner Bros. Pictures, 1999.

Bibliografia complementar

CHARTERIS-BLACK, Jonathan. Corpus Approaches to Critical Metaphor Analysis. Londres: Palgrave Macmillan, 2004.

CRUZ, Edgar G. Las metáforas de Internet. Barcelona: Editorial UOC, 2007.

DUSEK, Val. Filosofia da Tecnologia. São Paulo: Loyola, 2009.

GALLO, Sílvio; VEIGA-NETO, Alfredo. (Org.) Fundamentalismo e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metáforas da vida cotidiana. São Paulo: EDUC e Mercado das Letras, 2002[1980].

MORGAN, Richard. The Complete SF Collection. Ed. para Kindle. Londres: Gollancz, 2013.

POSTMAN, Neil. Amusing ourselves to death. Public discourse in the age of show business. Edição de comemoração do 20º aniversário da obra. Nova Iorque: Penguin, 2005[1985].

SELWYN, Neil. Education and Technology: key issues and debates. 2ª. Ed. Edição para Kindle. Londres: Bloomsbury, 2016.

SHELLEY, Mary. Frankenstein. Trad. Bruno Gambarotto. 1ª. Ed. São Paulo: Hedra, 2013.

STEFIK, M. Internet Dreams. Archetypes, myths and metaphors. Cambridge, MA: MIT Press, 2001[1996]

Audiovisual complementar

JUDGE, Mike; ALTSCHULER, John; KRINSKY, Dave. Silicon Valley. Seriado HBO, 2014-.

KALOGRADIS, Laeta. Altered Carbon. Seriado Netflix, 2018-.

NOLAN, Jonathan; JOY, Lisa. Westworld. Seriado HBO, 2016-.

SHYAMALAN, M. Night. A Vila. Touchstones Pictures, 2004.